A temperatura do planeta é muito maior e vem crescendo mais rápido do que “qualquer coisa que a civilização moderna já tenha visto”, disse David Easterling, um dos autores do novo relatório do governo americano sobre as mudanças climáticas.
A Quarta Avaliação Nacional Climática Volume II foi encomendada pelo Congresso americano e redigido com a ajuda de 1000 pessoas de 13 agências federais, incluindo 300 cientistas, sendo aproximadamente metade de fora do governo. De acordo com o relatório, as mudanças climáticas farão a economia americana perder centenas de bilhões de dólares até o final do século. O relatório divulgado em novembro deste ano reforça a conclusão do relatório anterior de que não há outra explicação para as mudanças climáticas que não seja pelas atividades humanas, em especial as emissoras de gases causadores do efeito estufa.
Em seu extenso conteúdo o relatório aponta o possível impacto das mudanças climáticas por região americana e expõe os efeitos dessas mudanças na saúde, economia e infraestrutura. Muitas das previsões e consequências podem ser estendidas para outros países, incluindo o Brasil. Aqui vão as principais:
1 – A produção agrícola irá cair
Produtores rurais irão enfrentar tempos difíceis. A qualidade e quantidade de colheitas vão cair devido às altas temperaturas, secas e inundações. Em regiões do centro-oeste dos Estados Unidos a produção de milho deve reduzir 25% em relação à atual, assim como a produção de soja no sul do país.
2 – A pecuária vai sofrer
O calor custou à indústria de laticínios 1,2 bilhões de dólares em 2010. Isso se tornará um problema ainda maior com o potencial de reduzir a produção de leite entre 0,60% e 1,35% nos próximos 12 anos.
A produção de carne bovina também será afetada já que haverão menos áreas próprias para o pasto e o calor e seca afetarão a criação do gado.
3 – Teremos menos opções de frutos do mar
A população de ostras, mariscos, camarões e siris será reduzida devido à acidificação dos oceanos. O relatório prevê uma perda de 230 milhões de dólares para a indústria da pesca até o final do século. Nesse período, a produção de ostras no sudeste será reduzida em 46%, no pior cenário.
A quantidade de peixes também será reduzida, uma vez que o fenômeno das marés vermelhas – algas que reduzem a concentração de oxigênio na água causando a morte de peixes – será mais comum. Em agosto, este fenômeno acionou um estado de emergência na Flórida.
Os recifes de corais, que suportam a vida de diversas espécies de peixes, já estão morrendo e podem ser perdidos de vez nas próximas décadas devido às maiores temperaturas.
4 – Doenças causadas por alimentos e água contaminada vão se espalhar
Toxinas e patógenos marítimos vão contaminar os frutos do mar. Bactérias como a Vibrio, que já vem afetando milhares de pessoas por ano, vão se expandir.
Inundações e tempestades fazem com que os esgotos contaminem a água, aumentando a quantidade de doenças.
Secas podem aumentar a quantidade de casos de infecções na pele e olhos, devido à falta de água para higiene pessoal. Entre as doenças que podem se disseminar estão a Hepatite A, salmonelose, disenteria, febre tifóide e infecções causadas pela bactéria E. coli.
5 – Insetos irão transmitir mais doenças
Sabemos que no Brasil os mosquitos são grandes vetores de doenças, principalmente durante o verão, quando encontram o ambiente perfeito para se reproduzir. Mosquitos e carrapatos adoram temperaturas quentes e úmidas. Doenças como Dengue, Zica e Chinkungunya vão chegar aos EUA e se espalhar. Provavelmente o Brasil irá sofrer com surtos dessas doenças em um maior período do ano.
6 – Ficará mais difícil de respirar
Asma e alergias se tornarão piores e afetarão mais pessoas devido às mudanças climáticas. Nos EUA a temporada de pólen vai se intensificar e se espalhar devido às temperaturas mais quentes.
Segundo o relatório, pólen do carvalho presente no centro-oeste dos EUA vão enviar mais pessoas para emergência devido à asma, o que acarretará num custo anual de 170 mil dólares.
Áreas urbanas com maior concentração de CO2 e umidade verão o aumento da população de plantas e mofos que causam alergias.
7 – A saúde mental será desafiada
Estudos mostram que a exposição ao calor extremo pode ser associada ao comportamento agressivo, aumento do número de suicídios, violência e maior número de pacientes com doenças mentais. Além disso, altas temperaturas podem aumentar o nível de stress das pessoas. Pior qualidade do ar limita o tempo que pessoas podem se exercitar ou socializar ao ar livre, atividades que aliviam o stress.
8 – Teremos mais mortes
Segundo o relatório, altas temperaturas vão também matar mais pessoas. Apenas na região centro-oeste dos EUA, que tem previsão de ter o maior aumento de temperatura, verá um aumento de 2.000 mortes prematuras por ano até 2090.
A pior qualidade do ar pode levar a um aumento no número de derrames e ataques cardíacos.
O calor será um problema para pessoas mais velhas com doenças crônicas, aumentando a taxa de mortalidade de 2,8% para 4% com um aumento da temperatura média de apenas 1ºC durante o verão.
9 – Não seremos mais capazes de trabalhar como hoje
No pior dos cenários para trabalhadores rurais, o aumento da temperatura irá resultar em uma perda de 2 bilhões de horas de trabalho, o que equivale a uma estimativa de 160 bilhões de dólares.
Até o fim do século, pode ficar muito mais difícil de trabalhar ao sol em algumas cidades, como Chicago, que podem atingir temperaturas próximas de 40ºC, temperatura próxima à medida em cidades como Phoenix ou Las Vegas hoje.
10 – A mobilidade urbana será afetada
A infraestrutura é vulnerável à temperaturas elevadas e períodos de chuvas. Segundo o relatório, até 2050 o sudeste dos EUA terá o maior número de pontes com risco de falha e mais barragens podem se romper com o aumento da quantidade de furacões e chuvas.
A costa leste dos EUA tem hoje rodovias ameaçadas pelas inundações causadas pela maré alta e o problema se intensificará com o aquecimento global.
11 – A infraestrutura pluvial será desafiada
Os sistemas de drenagem urbanos não foram projetados para suportar as chuvas extremas que virão com as mudanças climáticas. O custo para adaptar o sistema de drenagem no centro-oeste dos EUA por exemplo, pode passar de 480 milhões de dólares por ano.
O custo total para remediar as deficiências sanitárias e oferecer água tratada e esgoto para índios americanos, na região das grandes planícies, podem estar em torno de 280 milhões de dólares.
12 – Inundações serão mais frequentes
A cidade de Charleston, capital do estado de West Virginia, tem uma previsão de ser atingida por 180 inundações por ano causadas por maré alta até 2045. A critério de comparação a cidade foi atingida por 11 casos em 2014. Estudos mostram que cada ocorrência de inundação custa à cidade 12,4 milhões de dólares.
O aumento do nível do mar e tempestades podem custar à região sudeste dos EUA 60 bilhões de dólares por ano até 2050 e, no pior cenário, até 99 bilhões de dólares até 2090.
Mais da metade da população do estado da Flórida enfrentará elevado risco devido ao aumento do nível do mar.
13 – Queimadas vão aumentar
Os períodos de queimadas, já mais longos e destruidores que nunca, podem queimar seis vezes mais área de floresta anualmente até 2050 em partes dos EUA. No sudoeste da Califórnia as áreas queimadas podem dobrar até 2050.
Os custos com combate a incêndio no sudoeste podem chegar a 13 bilhões de dólares de 2006 a 2099.
14 – Haverá mais animais peçonhentos e outros invasores
A previsão é que a estação livre de congelamento vai provavelmente se estender mais um mês no sudeste dos EUA. Isso significa que uma variedade de besouros que devastam plantações vão migrar para o norte e atacar plantações por lá.
No sul da Flórida as píton birmanesas vivem em locais mais quentes, onde se reproduzem mais, com o potencial de dizimar populações de mamíferos. Roedores que carregam doenças podem também se reproduzir mais rápido.
As Lulas-de-humboldt que adoram águas acidificadas, quentes e com menos oxigênio vão se espalhar para outras áreas e se tornarão predadores de peixes na costa oeste.
15 – A história será perdida
Um estudo mostra que o aumento no nível do mar vai destruir os registros pré históricos da presença humana na costa sudeste dos EUA. Essa região pode perder 13.000 registros históricos e pré históricos em sítios arqueológicos devido ao aumento do nível do mar previsto. Mais de 1.000 sítios arqueológicos estão em risco no país.
Adaptado de: 15 takeaways from the US climate change report by Jen Christensen